O Boi de Mamão é um auto de ressurreição, teatro popular de improviso que traz na sua realização fragmentos da catequização dos jesuítas. A morte do Pai Matheus, a ressurreição através de reza e da crença, a Bernúncia que é corruptela do latim “abrenuntio” (latim abrenuntio, - are, renúncia) na qual um ser imaginário come as crianças as quais os pais renunciaram o batismo, são fragmentos de uma série de aculturações que após a expulsão dos jesuítas, se mantiveram nas mãos do povo que assim continuou ao seu modo, realizando-o principalmente nas datas festivas como carnaval, natal e festejos juninos, sempre improvisando conforme o contexto.
Na brincadeira do Boi de Mamão, a roda é aberta no meio do público com a dança do pau de fitas e depois a balainha, logo então o mestre autoriza as cantorias, cada personagem tem uma cantiga própria. O roteiro deste trabalho do Grupo Mandicuera, mistura fatos acontecidos na história real de um cortejo do boi de mamão em Paranaguá durante o carnaval, com a encenação antiga. Um certo dia, em outrora, ao se fazer a brincadeira, um dos foliões se aproximou de uma vaca de verdade que estava amarrada na cerca, a vaca escorregou no barranco e morreu enforcada. Todos os brincadores correram e se misturaram aos foliões do entrudo (carnaval antigo) para que não fossem reconhecidos. A polícia na ocasião prendeu a todos que estavam com adereços e fantasias dessa brincadeira. Daí em diante ninguém mais se encorajou a fazer a folia do boi por medo da repressão, sem saber que na verdade, que a polícia estava atrás de quem tinha matado a vaca.
Inspirada nesta história o Grupo Mandicuera, possui a estrutura tradicional do auto, onde Matheus, dono do boi, é morto pelo seu boi preferido, depois é atacado pelo urubu. Seus parceiros Tichipas chamam o Cavalo para poder ir buscar o Doutor para encontrar a cura. Após a ressurreição de Matheus, os foliões saem brincar o boi e acabam sem querer matando a vaca do Daniel. A partir daí entram outros personagens que faziam parte da história real como o Delegado, o Soldado Tamanduá (figura da cidade de Paranaguá). Com a confusão e para salvar a brincadeira é chamada a advogada Mariola, ( boneca com braços gigantes típica da folia). A brincadeira continua com o Sericó (foliões de carnaval que possuíam cabeças grandes de papel machê) e depois a entrada do Velho e da Velha ao final da dança que esquecem uma boneca de bebê no salão. A boneca (que representa a filha sem batismo) é comida pelo Barão ( marido da Bernúncia). Os brincantes avisam que depois do Barão vêm a Bernúncia que come as crianças da platéia. Após a brincadeira toca-se a toada final que se transforma num lindo cortejo.
A brincadeira do Boi de Mamão é livre e pode ser alterada ao gosto dos brincadores a qualquer momento.
FOLIA DO BOI DE MAMÃO - registros do dia 22 de fevereiro de 2025-
Rua da Praia - Paranaguá
Folia do Boi de Mamão em Pontal do Paraná -
registros de Rafael Damasceno, fevereiro de 2025